Sistemas de dois níveis
Embora os sistemas da natureza tenham, em geral, um grande
número de níveis, há situações em que apenas dois deles são
relevantes. Um exemplo importante é este: uma onda
eletromagnética, monocromática, de freqüência
(com
) incide sobre um átomo (de infinitos
níveis de energia ), que tem, entre eles, dois de energia s tais que
. A freqüência da onda é muito próxima da
diferença de níveis dividida por
. Mostramos anteriormente
que, neste caso, apenas os níveis
e
participam do
processo, sendo, os outros, ``espectadores'', que podem, para este
fim específico, ser ignorados.
Nesta seção vamos estudar sistemas idealizados que têm somente
dois níveis de energia . Supondo que esses níveis não sejam
degenerados, conclui-se que todo conjunto completo e linearmente
independente de vetores de estado deste sistema possui apenas dois
elementos: o conjunto de todos os estados forma, com as operações
usuais de adição e multiplicação por um número complexo, um espaço
vetorial complexo de dimensão 2, e o hamiltoniano, bem como todos
os operadores lineares, podem ser representados por matrizes
complexas
.
A equação de Schrödinger é escrita
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(829) |
e, supondo-se que o hamiltoniano não dependa explicitamente do tempo,
pode-se-a integrar formalmente, obtendo
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(830) |
Por causa da simplicidade do sistema, é possível escrever explicitamente
o operador
. Os autoestados da
energia ,
e
satisfazem as equações
e todo estado
pode ser expandido em termos
deles34:
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(833) |
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(834) |
Uma função
do hamiltoniano é definida assim:
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(835) |
Usando-se esta operação mostra-se facilmente que
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(836) |
que, usada para o operador de evolução temporal, dá:
De posse deste resultado, podemos formular a pergunta: suponhamos
que o sistema se encontre, em
, em um estado
. Qual é a probabilidade de que, decorridos
segundos, ele permanecer no mesmo estado?
Se, em
, o estado é
, teremos, no instante
,
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(838) |
e, usando a expressão acima,
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(839) |
Seja
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(840) |
então,
A probabilidade de o sistema, em
, estar no mesmo estado, é
obtida assim: existe uma base do espaço dos estados formada por
e outros estados, ortogonais a ele. Expandimos
nesta base:
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(842) |
A probabilidade pedida é
. Ora,
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(843) |
Logo, a probabilidade é
.
Vamos calcular
, a amplitude
de probabilidade. Usando (839), temos
Como
Então,
Suponhamos que
e
. Então, após uma
álgebra simples,
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(846) |
logo,
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(847) |
isto é, um sistema que está num estado estacionário permanece nele
(daí se chamar estacionário!).
É fácil mostrar que os estados estacionários são os únicos que
possuem esta propriedade. De fato, se
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(848) |
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(849) |
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(850) |
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(851) |
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(852) |
Para que
para todo
, temos de ter
ou
ou
. Em qualquer dos casos o outro coeficiente é
de módulo 1, pois
. Logo,
ou
.
Tomemos agora uma base arbitrária do espaço dos estados, formada por
e
. O estado
é
expandido, nesta base, como
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(853) |
Introduzindo a notação
temos
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(854) |
A equação de Schrödinger é
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(855) |
e, tomando os produtos escalares com
,
Denotando
por
, temos
Para estados estacionários,
. Logo, os elementos de
matriz
e
promovem as transições entre estados.
De fato, seja
um dos estados da base.
Qual é a probabilidade de que, em algum
, o sistema se encontre em
?
A amplitude é dada por
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(862) |
Não há transição se
.
As equações (863) são as Eqs.(8.43) do Volume III das ``Feynman
Lectures on Physics'', que as utiliza para um grande número de aplicações
interessantes. Vamos fazer o mesmo.
Henrique Fleming 2003