A energia potencial
consiste de dois poços de potencial
simétricos, separados por uma barreira. Na figura abaixo os
poços são as regiões I e II, e a barreira tem altura
.
Se a barreira fosse impenetrável, haveria níveis de energia
relativos ao movimento da partícula em um ou outro dos dois
poços, ou seja, duas famílias de níveis iguais, uma em
cada poço. O fato de que o tunelamento através da barreira
existe na mecânica quântica faz com que cada um dos níveis
relativos ao movimento em um dos poços se separe em dois
níveis próximos, correspondendo agora a estados da
partícula em que ela está nos dois poços.
A determinação deste desdobramento de níveis
é simples no caso em que se pode usar a aproximação quase
clássica. É o que faremos agora.
Uma solução aproximada da equação de Schrödinger para a energia potencial
, desprezando a probabilidade de passagem pela barreira, pode ser construída
com a função quase-clássica
, que descreve o movimento com uma
certa energia
em um dos poços (digamos, o poço I), e que é exponencialmente decrescente
em ambos os lados do poço I. A normalização aproximada desta função é
 |
(804) |
Portanto, para
, temos satisfeita a equação de Schrödinger
 |
(805) |
no seguinte sentido: para
a equação é aproximadamente satisfeita porque,
tanto
quanto sua derivada segunda, nesta região, são aproximadamente
nulas.
O produto
, para
, é
desprezível.
O potencial como um todo é simétrico. A
equação de Schrödinger
 |
(806) |
permanece válida quando se troca
por
. Logo, se
é uma função de onda,
também o é, para o mesmo
valor de
. Como não há degenerescência, temos
 |
(807) |
Logo,
 |
(808) |
e portanto
, de onde segue que
. Temos,
em conseqüência,
 |
(809) |
ou
 |
(810) |
As autofunções da energia deste sistema são, portanto,
funções pares ou ímpares de
. Isto é uma
conseqüência de que
.
As funções de onda corretas, na aproximação quase-clássica, são obtidas
construíndo, a partir de
, as funções
, simétrica,
e
, anti-simétrica:
Note que a função
não é autofunção do
hamiltoniano com a energia potencial
, simétrica: é a
função de onda que teríamos de a barreira fosse
impenetrável. Tanto que
é desprezível,
enquanto que
não o é.
De novo, como os níveis não são degenerados, devemos ter energia s diferentes
para
e
.
Sejam
 |
(813) |
a equação de Schrödinger para
, e
 |
(814) |
aquela para
.
Multiplicando (806) por
e (814) por
e subtraíndo, temos
 |
(815) |
ou
 |
(816) |
Integrando de
a
:
 |
(817) |
onde usamos o fato de
ser muito pequeno.
Lembrando que as funções que aparecem no primeiro membro se anulam no
infinito, temos
 |
(819) |
 |
(820) |
 |
(821) |
 |
(822) |
Voltando à (820),
![\begin{displaymath}
\psi_{1}(0)=\frac{1}[\sqrt{2}\left[\psi_{0}(0)+\psi_{0}(0)\right]=\sqrt{2}\psi_{0}(0)
\end{displaymath}](img2296.png) |
(823) |
enquanto
 |
(824) |
levando a
 |
(825) |
Repetindo agora o cálculo com
e
, obtemos,
ao longo dos mesmos passos,
 |
(826) |
Subtraíndo, obtemos
 |
(827) |
Um cálculo mais refinado leva ao resultado
 |
(828) |
onde
é uma constante, e
e
são indicados na figura. A
eq.(829) torna explícito o papel do tunelamento
na separação dos níveis de energia .
Henrique Fleming 2003